aruan mattos | flavia regaldo
  • AINDA QUE DURA
    • VISTAS
    • MONOTIPIAS
    • DESENHOS
    • MARCOS
    • PAINEIS
    • OBRAS
    • TEXTOS >
      • BH_SERRAS_PEDREIRAS
      • HIATO
      • GRAVE
    • LIVRO
  • SEM PASSAGEM
  • SUSPENSAO E QUEDA
  • DE PASSAGEM
    • DE PASSAGEM
    • EXPOSICAO
    • INSTALACAO
    • PUBLICACAO
    • TEXTOS >
      • PARQUE-ABERTO
      • DESEJO + CERCAS
      • CANTO NOMADE
  • A PALAVRA
    • A PALAVRA
    • traslador-expo
    • espaco
    • universo-buraco-negro
  • TRASLADOR
    • TRASLADOR
  • MAQUINAS INUTEIS
    • MAQUINAS INUTEIS
    • Chuva
    • Absorva
    • Suspensao
    • Poeira
    • PUBLICACAO-maquinas
  • BARLAVENTO
    • BARLAVENTO
    • PUBLICACAO-BARLAVENTO
  • DESCONCERTO
  • TETO
    • TETO
    • teto
    • 3142610
    • vao01
    • vao02
    • solo
    • paraonada
  • CICLORITMOSCOPIO
    • CICLORITMOSCOPIO
    • criatura
    • palestra
    • breu
    • ordem
    • tempo
    • golem
  • CICLO.VISTA
  • CV
  • PORTFOLIO FLAVIA 2022
De Passagem
Aruan Mattos / Flavia Regaldo

2016

​Entre o Palácio das Artes e o Parque Municipal de Belo Horizonte existe uma cerca de metal em toda a extensão de encontro. Em De Passagem partimos de negociações com as instituições estadual e municipal para conseguirmos a permissão para instalar uma ponte entre as duas posições. A sistematização intangível, a burocracia, os lados inatingíveis. O tamanho da ponte talvez não meça a distância entre o parque e a galeria. E se a passagem é inalcançável, é na utopia que se idealiza projetos fabulosos para se chegar ao outro lado da cerca.

[1]
DESENHOS

[2]
EXPOSIÇÃO


[3]
INSTALAÇÃO


[4]

PUBLICAÇÃO
​
[5]
TEXTOS                                                                       

    ​  
          GRADES
          
Francisca Caporali                                    >

          PARQUE ABERTO: PORQUE NÃO
          
Fernanda Regaldo

          O DESEJO CODIFICADO >< A ARTE
          FUNCIONÁRIA: OS ESCRAVOS DE JÓ
          JOGAVAM CAXANGÁ!

          Adriano Mattos
          ENTRE CERCAS
          
Aruan Mattos . Flavia Regaldo

          CANTO NÔMADE
          
Nian Pissolati

GRADES
FRANCISCA CAPORALI


Desde sua concepção, o Parque Municipal Américo Renné Gianetti vem sofrendo constantes alterações em área e proposições de uso. Do projeto original, iniciado ainda no século XIX com uma área inicial de 62 hectares - mais de três vezes maior que área atual - que previa um cassino, um restaurante e um observatório meteorológico, pouco se construiu. Entretanto, o fato de ter se tornado uma das principais referências para realização de eventos na cidade, contribuiu para imaginação e participação ativa dos usuários que vinham de todas as partes da cidade, e viviam ali o que hoje, à nós, pareceriam ideias completamente utópicas. O Velo Clube promovia grandes festas esportivas com corridas de bicicleta, velocípede e a pé. Nos anos 20, junto a construção do Coreto, quadras de tênis e pista de patinação, o parque recebe a instalação do gradil de ferro. 

Em 1941, o prefeito Juscelino Kubitschek dá inicio às obras para construção do Teatro Municipal – atual Palacio das Artes - em uma das esquinas do Parque. O projeto nasce num parque já sem grades – recém removidas por influências do movimento modernista na cidade – e portanto integrado ao território verde. Sem as grades, uma série de eventos são realizados: piano ao ar livre, jogos de futebol, peteca, tênis e, principalmente, natação e remo.

Na década de 50, o pavilhão do Clube dá lugar a outro edifício – o Teatro Francisco Nunes - e a dinâmica social e democrática existente ali é substituída por mais um equipamento cultural sujeito à lotação. Na mesma época, equipamentos nos mesmos moldes arquitetônicos inauguravam na Pampulha apontando para uma nova forma de lazer na cidade: o lazer privado. Como resultado dessas substituições, a autonomia e liberdade para ocupação do espaço publico enfraquece, e o sentimento de pertencimento parece só existir através de tickets que comprovam que parte do espaço está reservada ao único usuário detentor desses. Nesse momento, o equipamento cultural cumpre um papel segregador imediato e inicia, dentro de um parque público e sem grades, a construção de uma barreira sociocultural.

A finalização da obra do Palácio acaba sendo assumida pelo governo estadual que o inaugura na década de 70 e apresenta, no evento de inauguração, o manifesto Do corpo à terra e a exposição Objeto e participação que ocupam, respectivamente, o parque e a galeria, ainda inseridos num único território. Abrem-se as portas para um foyer de mármore e galerias brancas, uma escolha estética que configura uma arquitetura inibidora, distante do que se vê em estruturas de caráter verdadeiramente público. Independente da entrada franca, essa escolha acaba selecionando quem penetra ou não o equipamento. Sete anos após a inauguração, as grades que já cercaram o Parque Municipal décadas atrás são reinstaladas, somando mais cinquenta metros do gradil de ferro verde que passam a dividir até os dias de hoje o oásis urbano, controlado pela administração municipal, e o Palácio das Artes, instituição estadual.

O Parque é um exemplo de como os espaços públicos foram entendidos no Brasil. Como ele, muitas outras áreas de uso comum foram gradeados no país, seguindo políticas higienistas que buscavam desacomodar o crescente número de moradores de rua dos espaços públicos, proposições estas sempre disfarçadas de iniciativas que prezavam pela segurança da população. Nos últimos anos, alguns artistas se ocuparam em expor o ridículo dessas grades, que, muitas vezes criam uma fronteira para grandes vazios, acessíveis por horas determinadas através de portões que limitam a entrada e dificultam a travessia do local pela população, que acaba preferindo contornar a cerca para chegar ao destino. Em 2009, o coletivo artístico Opavivará! realizou, no Rio de Janeiro, a ação “Pulacerca” em que escadas de pintor foram acorrentadas às grades possibilitando que os passantes acessassem o espaço interior da Praça da República desde outros pontos. Em 2011 a praça passa a viver livre das cercas onde o coletivo acorrentou as escadas. Este movimento tem sido realizado em várias outras cidades brasileiras, mas em Belo Horizonte, o Parque Municipal segue gradeado e fechando às 18 horas.

Em 2012, 35 anos após a instalação do gradil de ferro, o incômodo causado pela falta de conexão das duas instituições vizinhas serviu como uma das orientações centrais do Noite Branca no Parque. O projeto ocupava em reconhecer as iniciativas artísticas que se propunham a intervir na dinâmica cotidiana da cidade, criando um ambiente durante o período de uma só noite para proposições que em conjunto, convidavam a uma reintegração do teatro ao parque e, mais importante, do parque à cidade. Os artistas Shima e C.L.Salvaro, construíram uma mesa e bancos que atravessavam as barras de ferro e nela serviam sopa aos dois públicos, o de dentro e o de fora da grade. A ação artística ocorreu próximo ao ponto onde os moradores de rua, que durante o dia usufruem das instalações do Parque, recebem alimentação às noites de diferentes organizações sociais. Os bancos e as mesas criados pelos artistas serviam como uma possível entrada clandestina ao evento, que inicialmente, possuía apenas um acesso: as portas do Palácio das Artes.

Por uma noite, os 50 metros de grade que separa o Parque do Palácio, foram removidos pela equipe propositora da Noite Branca e embalados para serem estocadas, num ato simbólico e esperançoso de que a permeabilidade experimentada no caminho de entrada àquela noite inspiraria a decisão das duas administrações de não reinstalar a mesma, o que claro, não ocorreu. Assim, às 08 horas da manhã seguinte, serralheiros se apressavam em soldar os grandes painéis de ferro.
No ano seguinte ao Noite Branca no Parque, o prédio da então Escola Imaco, que existiu por quase 60 anos na área central do Municipal, é demolida para dar lugar a mais um um equipamento cultural, um Espaço Multiuso, assinado pelo arquiteto Gustavo Penna e orçado em R$12 milhoes. A escola, que poderia promover uma ampliação de acessos a embasamentos culturais e críticos para de fato fazer uso de tais equipamentos, uma vez demolida deixa clara a falta de visão dos nossos planejadores. Ainda que já sido vivenciados os resultados do projeto Corredor Cultural da Praça da Liberdade, que há cinco anos conta com mais de cinco dispostivos esvaziados de público, seguem as obras de edificação de mais um aparato.

A fronteira é sempre dupla, nunca uma única linha de separação ou transgressão que chega a um vazio, e sim uma linha que beira dois lados e que tem a função de inclusão e exclusão. Nesse sentido, a grade se mostra a materialização e o reforço de uma barreira que vem sido construída há anos. É fruto de um planejamento discriminatório que desenha a cultura e arte como alternativas elitistas através de uma arquitetura impactante, em detrimento de experiências realmente públicas, criativas e horizontais. 

A intensificação de discussões politicas sobre a questão urbana, principalmente pós as manifestações de junho de 2013, cria um momento propício a novas propostas. Parques e praças em cidades brasileiras ganham podas das grades e funcionamento 24horas. Belo Horizonte, por sua vez, conclui o Plano Diretor do Parque Municipal, traçado para os próximos 35 anos, desenvolvido por um escritório europeu recém chegado ao Brasil, através de uma parceria público-privado. Parte de um projeto maior que vem sido implementado há alguns anos, a “revitalização” do centro da cidade, que atende a parte das revindicações da sociedade civil, traçando, estrategicamente, um ambiente diferenciado para que a população mais abonada da cidade se sinta mais a vontade em um espaço que nunca deixou de ser vivo, despretensioso e com caráter popular. O plano, que ingenuamente (ou publicitariamente) objetiva resgatar o projeto pioneiro, idealizado pelo paisagista Paul Villon em 1897, precisa admitir que a barreira sociocultural construída ao longo do século de existência do Parque não se desmonta ao serrar o gradil de ferro. A permeabilidade é um dos conceitos que permitem um ambiente construído ser vital, sendo representada pelo potencial de um espaço urbano oferecer possibilidade de caminhos através dele e para outros pontos da cidade. Apesar do plano apresentar tais possibilidades, são ainda necessárias politicas sociais realmente interessadas na apropriação e uso comum do espaço público.  
​


> PARQUE ABERTO: PORQUE NÃO | Fernanda Regaldo


> O DESEJO CODIFICADO >< A ARTE FUNCIONÁRIA: OS ESCRAVOS DE JÓ JOGAVAM CAXANGÁ! | Adriano Mattos
   +
​
  ENTRE CERCAS | Aruan Mattos . Flavia Regaldo

​
​> CANTO NÔMADE | Nian Pissolati

aruanml@gmail.com   |   flaviaregaldo@gmail.com